On 21:33 by Raphael Oliveira in , ,    No comments


            Conta-se que certa vez um famoso sábio da academia, aborrecido e  decepcionado com a vida agitada dos grandes centros urbanos, que muito embora proporcione enorme felicidades em razão dos velozes meios de transportes, dos eficientes equipamentos de comunicação, das modernas conquistas cientificas e de outros aparatos tecnológicos cada vez mais precisos e sofisticados, paradoxalmente está deixando o homem isolado, estressado e diante de Deus, resolveu fazer uma excursão ao campo, em busca da alegada sabedoria cabocla, a qual seria o resultado de uma vida rural mais amena e saudável.
            Não demorou muito e logo ele vislumbrou um camponês vestido à caráter, com roupas rústicas, chapéu de abas largas e sugando o indefectível cigarro de palha. Era um dia claro de verão e céu azul, Sol a pino e o caboclo estava lavrando a terra pacientemente, desferindo certeiros golpes com a sua enxada de cabo longo. Certamente ele já percebera a aproximação do estranho, que caminhava desajeitadamente na sua direção, tropeçando nos tocos de árvores e assim denunciando a sua condição de homem da cidade, mas fingia que nada vira.
            Quando chegou mais perto, o sábio da academia cumprimentou o roceiro , que, depois de uma demora proposital de alguns segundos, resmungou um monossílabo à guisa de resposta e continuou capinando. O grande sábio perguntou, de chofre: “Será que o senhor poderia me dizer onde está Deus?”
            O Caboclo paro de capinar, levantou a aba do chapéu, passeou vagarosamente o olhar em todas as direções, e finalmente respondeu: “Olha eu senhor, onde está Deus eu não sei, não senhor. Mas será que o Senhor poderia me dizer aonde é que Deus não está?!?”
 
            Cada religião explica Deus à sua maneira; cada teoria o descreve a seu modo. E de tudo isso resulta uma confusão, um caos inextricável. Dessa confusão, os ateus têm tirado argumentos para negar a existência de Deus; os positivistas, para o declarar incognoscível. Como escapar a essas contradições? Da mais simples maneira. Basta elevarmo-nos acima das teorias e dos sistemas, bastante alto para as ligar em seu conjunto e pelo que têm de comum. Basta elevarmo-nos até à grande Causa, na qual tudo se resume e tudo se explica.
            Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e declarar que o nada pode fazer alguma coisa. A prova da existência de Deus, como dizem os Espíritos Superiores, para ser encontrada em um axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo que não é obra do homem e a vossa razão responderá.
            Vemos constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está na humanidade, pois que a humanidade é impotante para produzi-los, ou sequer, para os explicar. Tais efeitos absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem. Desde a organização do mais pequenino inseto e da mais insignificante semente, até a lei que rege os mundos que circulam, no Espaço, tudo atesta uma ideia diretora, ma combinação, uma previdência, uma solicitude, que ultrapassam todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente.
            Constitui princípio elementar que pelos seus efeitos é que se julga uma causa, mesmo quando ela se conserve oculta. Se, fendendo os ares, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, deduz-se que hábil atirador o alvejou, ainda que este ultimo não seja visto. Nem sempre, pois, se faz necessário vejamos uma coisa, para sabermos que ela existe. Em tudo observamos os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas.
            Outro princípio igualmente elementar e que, de tão verdadeiro, passou a axioma, é o que de todo efeito inteligente tem que se decorrer de uma causa inteligente. Se perguntassem qual o construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem respondesse que ele se fez a si mesmo? Quando se contempla uma obra prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido por um homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la. Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar que não está acima da capacidade humana; mas, a ninguém acudirá a ideia de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, menos ainda que é trabalho de um animal ou produto do acaso.
            Não podendo nenhum ser humano criar o que a natureza produz, a causa primeira é, conseguintemente, uma inteligência superior à humanidade. Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe deem.
            Pois bem! Lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da natureza, notando a providencia, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconhece o observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à humanidade a menos que se sustente que há efeito sem causa.
            A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primaria ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria mais acaso.
            Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.
            A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada não só pela revelação, como pela evidencia material dos fatos. Os povos selvagens nenhuma revelação  tiveram; entretanto, Creem instintivamente na existência de um poder sobre-humano. Eles veem coisas que estão acima das possibilidades do homem e deduzem que essas coisas provem de um ente superior à humanidade. Não demonstram raciocinar com mais lógica que os que pretendem que tais coisas se fizeram a si mesmas?

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