Módulo II – A Codificação Espírita
Metodologia e Critérios utilizados na
Codificação Espírita
Allan
Kardec, como se sabe, não era um cientista no sentido profissional, de
especialista neste ou naquele ramo da Ciência, mas tinha cultura cientifica,
espírito cientifico. A propósito deste assunto, o escritor e jornalista
espírita Deolindo Amorim, num de seus artigos dedicados ao Codificador, assim se
expressa: “Alan Kardec revela-se, em tudo
e por tudo, um homem de espírito científico pela sua própria natureza... Todas
as condições indispensáveis ao espírito científico nele estão, sem tirar nem
pôr, como diz o jargão habitual: em primeiro lugar, a serenidade com que
encarou os fatos mediúnicos, com equilíbrio imperturbável, sem negar nem
afirmar aprioristicamente; em segundo lugar, o domínio próprio, a fim de não se
entusiasmar com os primeiros resultados; em terceiro lugar, o cuidado na
seleção das comunicações; em quarto lugar, a prudência nas declarações, sempre
com a preocupação de evitar divulgação precipitada de fatos ainda não de todo
examinados e comprovados; em quinto lugar, finalmente, a humildade, que e
também uma condição do espírito cientifico, interessado na procura da verdade,
antes e acima de tudo.”
E
foi esse espírito cientifico que o secundou, todo o tempo, no cumprimento de
sua missão de Codificador da Doutrina Espírita.
1 – O Espiritismo e a Ciência
1.1 Espiritismo e Ciência se completam
Espírito
e matéria, de acordo com a Doutrina Espírita, são duas constantes da realidade
universal. Assim, Espiritismo e Ciência não são forças antagônicas, mas, ao
contrário, completam-se reciprocamente, segundo o pensamento de Kardec,
expresso em A Gênese: “Assim como a
Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio
material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do
principio espiritual. Ora, como este último principio é uma das forças da
Natureza, a reagir incessantemente sobre o principio material e reciprocamente,
segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do
outro. O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o
Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas
leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação.
O estudo das leis da matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a
matéria é que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes
das descobertas científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do
tempo.”
1.2 O Espiritismo não é da alçada da Ciência
O
fato de a Ciência oferecer ao Espiritismo apoio e confirmação não garante, no
entanto, àquela a competência para se pronunciar em questão da Doutrina
Espírita. Eis os argumentos apresentados pelo Codificador, com respeito a este
assunto.
“As ciências gerais se apoiam nas
propriedades da matéria, que pode ser manipulada e experimentada à vontade; os
fenômenos espíritas se fundamentam na ação das inteligências que têm vontade
própria e nos provam a cada instante que não estão à disposição dos nossos
caprichos.
As observações, em vista disso, não podem ser feitas da mesma
maneira; requerem condições diferenciadas, especiais e um outro ponto de
partida. Querer submetê-las aos nossos processos comuns de investigação é
querer estabelecer e forçar semelhanças que não existem.
A ciência propriamente dita, como
ciência, é incompetente para pronunciar-se na questão do Espiritismo; ela não
tem que se ocupar com isso, e qualquer que seja seu julgamento, favorável ou
não, não tem nenhuma importância.”
É
importante considerar-se que, ao referir-se às ciências ordinárias, Kardec
fazia alusão às ciências positivas, classificadas por Augusto Comte em:
Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia e Sociologia.
2 – O método de investigação cientifica
dos fenômenos espíritas
O
método adotado por Allan Kardec na investigação e comprovação do fato mediúnico
– instrumento comprobatório da existência e comunicabilidade do Espírito – é o
experimental, aplicado às ciências positivas, fundamentado na observação,
comparação, analise sistemática e conclusão. São suas palavras: “Como meio de elaboração, o Espiritismo
procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método
experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas
leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às
causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as
aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não
apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o
perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina;
concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou
evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros
princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a
teoria é que veio subseqüentemente explicar e resumir os fatos. É, pois,
rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e
não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois
que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então,
acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o
é também às coisas metafísicas. Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até
então, o método da experimentação; jamais ocasionei teorias preconcebidas:
observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos
procurava remontar às causas, pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos,
não admitindo uma explicação como válida senão quando podia resolver todas as
dificuldades da questão.”
3 – O Espiritismo e a lógica indutiva
Na
indução cientifica, chega-se à generalização pela analise das partes. Esse tipo
de lógica exige observações repetidas de uma experiência ou de um
acontecimento. Da observação de muitos exemplos diferentes os cientistas podem
tirar uma conclusão geral. Foi assim que procedeu Kardec em relação à Doutrina
Espírita, colocando-a confortavelmente entre as demais ciências.
A
respeito do caminho das induções – percorrido pela Doutrina Espírita –
Herculano Pires, em seu livro O Espírito
e o Tempo , infere que é a partir da observação dos fatos positivos que o
Espiritismo chega às realidades extrafísicas. Em A Gênese, diz-nos o
Codificador: Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a
teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. Fica assim, a
estrutura lógica do Espiritismo caracterizada como de natureza indutiva.
No
entanto, o processo indutivo está igualmente consagrado na Doutrina Espírita,
já que o método cientifico exige que se combinem indução e dedução. São
palavras de Kardec: “Jamais ocasionei teorias preconcebidas: observava atentamente,
comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas,
pela dedução e o encadeamento lógico dos fatos, não admitindo uma explicação
como válida senão quando podia resolver todas as dificuldades da questão. As
idéias do homem estão na razão do que ele sabe; como todas as descobertas
importantes, a da constituição dos mundos deveria imprimir-lhes outro curso;
sob a influência desses conhecimentos novos, as crenças se modificaram; o Céu
foi deslocado e a região estelar, sendo ilimitada, não mais lhe pode servir.
Onde está ele, pois? E ante esta questão emudecem todas as religiões.
O Espiritismo vem resolvê-las
demonstrando o verdadeiro destino do homem. Tomando-se por base a natureza deste
último e os atributos divinos, chega-se a uma conclusão; isto quer dizer que
partindo do conhecido atinge-se o desconhecido por uma dedução lógica, sem
falar das observações diretas que o Espiritismo faculta.”
4 – O Controle universal dos ensinos
dos Espíritos
Dois
importantes critérios, igualmente tomados à metodologia cientifica, foram
adotados por Kardec na difícil tarefa de reunir informações para a elaboração
da Doutrina Espírita: a generalidade e a concordância dos ensinos dos
Espíritos. Esses Critérios, com o suporte do uso da razão, do bom senso e da
lógica rigorosa emprestam à Doutrina Espírita força e autoridade, como podemos
constatar na introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” : “Quis Deus que a nova revelação chegasse aos
homens por mais rápido caminho e mais autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos
de levá-la de um pólo a outro, manifestando-se por toda a parte, sem conferir a
ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser ludibriado,
pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas vêem
e ouvem a mesma coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos.
Ao demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se pode fazer que
desapareçam as coletividades; podem queimar-se os livros, mas não se podem
queimar os Espíritos. Ora, queimassem-se todos os livros e a fonte da doutrina
não deixaria de conservar-se inexaurível, pela razão mesma de não estar na
Terra, de surgir em todos os lugares e de poderem todos dessedentar-se nela.
Não será à opinião de um homem que se
aliarão os outros, mas à voz unânime dos Espíritos; não será um homem, nem nós,
nem qualquer outro que fundará a ortodoxia espírita; tampouco será um Espírito
que se venha impor a quem quer que seja: será a universalidade dos Espíritos
que se comunicam em toda a Terra, por ordem e eus. Esse o caráter essencial da
Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade. Quis Deus que a sua lei
assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu por fundamento a cabeça
frágil de um só.
O primeiro exame comprobatório é,
pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se submeta, sem exceção, tudo
o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom
senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser
rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura.
Incompleto, porém, ficará esse exame em muitos casos, por efeito da falta de
luzes de certas pessoas e das tendências de não poucas a tomar as próprias
opiniões como juizes únicos da verdade. Assim sendo, que hão de fazer aqueles
que não depositam confiança absoluta em si mesmos? Buscar o parecer da maioria
e tomar por guia a opinião desta. De tal modo é que se deve proceder em face do
que digam os Espíritos, que são os primeiros a nos fornecer os meios de
consegui-lo. Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a
concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente,
servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários
lugares.
Essa a base em que nos apoiamos,
quando formulamos um principio da doutrina. Não é porque esteja de acordo com
as nossas idéias que o temos por verdadeiro. Não nos arvoramos, absolutamente,
em árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos: "Crede em tal coisa,
porque somos nós que vo-lo dizemos." A nossa opinião não passa, aos nossos
próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto
não nos considerarmos mais infalível do que qualquer outro. Também não é porque
um principio nos foi ensinado que, para nós, ele exprime a verdade, mas porque
recebeu a sanção da concordância.
Na posição em que nos encontramos, a
receber comunicações de perto de mil centros espiritas sérios, disseminados
pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições de observar sobre
que principio se estabelece a concordância. Essa observação é que nos tem
guiado até hoje e é a que nos guiará em novos campos que o Espiritismo terá de
explorar. Porque, estudando atentamente as comunicações vindas tanto da França
como do estrangeiro, reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações,
que ele tende a entrar por um novo caminho e que lhe chegou o momento de dar um
passo para diante. Essas revelações, feitas muitas vezes com palavras veladas,
hão freqüentemente passado despercebidas a muitos dos que as obtiveram. Outros
julgaram-se os únicos a possui-las. Tomadas insuladamente, elas, para nós,
nenhum valor teriam; somente a coincidência lhes imprime gravidade. Depois,
chegado o momento de serem entregues à publicidade, cada um se lembrará de
haver obtido instruções no mesmo sentido. Esse movimento geral, que observamos
e estudamos, com a assistência dos nossos guias espirituais, é que nos auxilia
a julgar da oportunidade de fazermos ou não alguma coisa.
Essa verificação universal constitui
uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias.
Aí é que, no porvir, se encontrará o critério da verdade. O que deu lugar ao
êxito da doutrina exposta em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns foi
que em toda a parte todos receberam diretamente dos Espíritos a confirmação do
que esses livros contêm.
Retomando,
em A Gênese, esse assunto, Kardec assim
se expressa: “Generalidade e
concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma
da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido
a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte
integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não
pode o Espiritismo assumir a
responsabilidade.
Essa coletividade concordante da
opinião dos Espíritos, passada, ao
demais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da
doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade. Para que ela mudasse, fora
mister que a universalidade dos Espíritos mudasse de opinião e viesse um dia
dizer o contrário do que dissera. Pois que ela tem sua fonte de origem no
ensino dos Espíritos, para que sucumbisse seria necessário que os Espíritos
deixassem de existir. É também o que fará que prevaleça sobre todos os sistemas
pessoais, cujas raízes não se encontram por toda parte, como com ela se dá.“
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Procurando por bons sites/blogs sobre espiritismo, vim parar aqui. Gostaria de parabeniza-lo pelo excelente conteúdo do blog. É muito bom ver o espiritismo tratado com propriedade e seriedade (o que infelizmente nem sempre ocorre na blogosfera).Abraço. Cláudio
ResponderExcluirA juventude espírita de Pernambuco agradece este excelente espaço para busca de material de qualidade para nossos estudos de Espiritismo. Muita Paz !!!
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