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Módulo III – Deus
Existência de Deus


O homem que desconhece Deus e não quer saber que forças, que recursos, que socorros d’Ele promanam, esse é comparável a um indigente que habita ao lado de palácios, cheios de tesouros, e se arrisca a morrer de miséria diante da porta que lhe está aberta e pela qual tudo o convida a entrar.
A crença em Deus se afirma e se impõe, fora e acima de todos os sistemas, de todas as filosofias, de todas as crenças. O homem não se pode desinteressar dela porque o homem é um ser pensante. O homem vive, e importa-lhe saber qual é a fonte, qual é a causa, qual é a lei da vida. A opinião que tem sobre a causa, sobre a lei do Universo, essa opinião, quer ele queira ou não, quer ele saiba ou não, se reflete em seus atos, em toda a sua vida pública ou particular.
A questão de Deus é o mais grave de todos os problemas suspensos sobre nossas cabeças e cuja solução se liga, de maneira restrita, imperiosa, ao problema do ser humano e de seu destino, ao problema da vida individual e da vida social.
O conhecimento da verdade sobre Deus, sobre o mundo e a vida é o que há de mais essencial, de mais necessário, porque é Ele que nos sustenta, nos inspira e nos dirige, mesmo à nossa revelia.
A crença em Deus está instintivamente impressa na mente humana. À medida que o homem evolui, apura-se também a crença em Deus. Dessa forma, como nos ensinam os Espíritos Superiores, o sentimento instintivo de crer em Deus nos prova que Deus existe. É também uma consequência do princípio – não há efeito sem causa.
“05 - Que conclusão podemos tirar do sentimento intuitivo que todos os homens trazem em si mesmos da existência de Deus?
– A de que Deus existe; de onde lhes viria esse sentimento se repousasse sobre o nada? É ainda uma consequência do princípio de que não há efeito sem causa.”
Poder-se-ia argumentar que a crença em Deus resulta da educação recebida, consequência das ideias adquiridas. Entretanto, esclarecem os Espíritos da Codificação, se assim fosse, porque existiria nos vossos selvagens esse sentimento?
“06 - O sentimento íntimo que temos em nós da existência de Deus não seria o efeito da educação e das ideias adquiridas?
– Se fosse assim, por que vossos selvagens teriam também esse sentimento?”
Opinando a respeito, Kardec nos elucida: “Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse o produto de um ensinamento, não seria universal. Somente existiria naqueles que tivessem recebido esse ensinamento, como acontece com os conhecimentos científicos.”
Deus nos fala por todas as vozes do Infinito. E fala, não em uma bíblia escrita há séculos, mas em uma bíblia que se escreve todos os dias, com estes característicos majestosos, que se chamam oceanos, montanhas e astros do céu; por todas as harmonias, doces e graves, que sobem no imo da Terra ou descem dos espaços etéreos. Fala ainda no santuário do ser, nas horas de silencio e meditação. Quando os ruídos discordantes da vida material se calam, então a voz interior, a grande voz desperta e se faz ouvir. Essa voz sai da profundeza da consciência e nos fala dos deveres, do progresso, da ascensão da criatura. Há em nós uma espécie de retiro intimo, uma fonte profunda de onde podem jorrar ondas de vida, de amor, de virtude e de luz. Ali se manifesta esse reflexo, esse gérmen divino, escondido em toda alma humana.
A historia da ideia de Deus mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau intelectual dos povos e de seus legisladores, correspondendo aos movimentos civilizadores, à poesia dos climas, às raças, à florescência de diferentes povos; enfim, aos progressos espirituais da humanidade. Descendo pelo curso dos tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações dessa ideia imperecível, que, às vezes fulgurante e outras vezes eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fastos da Humanidade. Liga-se estreitamente à ideia de Lei, e assim à de dever e de sacrifício. A ideia de Deus liga-se a todas as noções indispensáveis à ordem, à harmonia, à elevação dos seres e das sociedades. Eis porque, logo que a ideia de Deus se enfraquece, todas as nações se debilitam; desaparecem, pouco a pouco, para dar lugar ao personalismo, à presunção, ao ódio por toda autoridade, por toda direção, por toda lei superior.
Diremos, pois, que desconhecer, desprezar a crença em Deus e a comunhão do pensamento que a Ele se liga seria, ao mesmo tempo, desconhecer o que há de maior, e desprezar as potências interiores que fazem a nossa verdadeira riqueza. Seria calcar aos pés nossa própria felicidade, tudo que pode fazer nossa elevação, nossa gloria, nossa ventura.
A ideia de Deus impõe-se por todas as faculdades do nosso Espírito, ao mesmo tempo que nos fala aos nossos olhos os esplendores do Universo. A inteligência suprema revela a causa eterna, na qual todos os seres vêm haurir força, a luz e a vida. Aí está o Espírito Divino, o Espírito Potente, que se venera sob tantas denominações; mas sob todos esses nomes, é sempre o centro, a lei viva, a razão pela qual os seres e os mundos se sentem viver, se conhecem, se renovam e elevam.
Viver sem a crença em um ser superior é negar a obra da Criação; é omitir o evidente, o real; é alimentar o nosso orgulho; é permanecer no estado de ignorância em que ainda nos encontramos, é, em suma, negar a realidade que está ao alcance de todos, pois tudo no Universo, o visível e o invisível, e, principalmente, a nossa consciência nos fala de um Ser superior.
A crença em Deus é, além disso, questão essencial para o entendimento da Doutrina Espírita. Entretanto para elucidar esse assunto de tão magna importância temos agora recursos mais elevados que os do pensamento humano; temos o ensino daqueles que deixaram a Terra, a aparição das Almas que, tendo franqueado o tumulo, nos fazem ouvir, do fundo do mundo invisível, seus conselhos, seus apelos, suas exortações. Verdade é que nem todos os Espíritos são igualmente aptos a tratar dessas questões. Nem todos estão igualmente desenvolvidos; não chegaram todos ao mesmo grau de evolução. Acima, porém, da multidão das Almas obscuras, ignorantes, atrasadas, há Espíritos eminentes, descidos das esferas superiores para esclarecer e guiar a Humanidade. Ora, que dizem esses Espíritos sobre a questão de Deus? A existência da Potência Suprema é afirmada por todos os Espíritos elevados. Todos aqueles cujos ensinamentos têm reconfortado as nossas almas, mitigado nossas misérias, sustentando nossos desfalecimentos, são unânimes em afirmar, em repetir, em reconhecer a alta Inteligência que a tudo governa.
Eles dizem que essa Inteligência se revela mais brilhante e mais sublime à medida que se escalam os degraus da vida espiritual.
Assim, nos esclarecem os Espíritos Superiores na primeira questão de O Livro dos Espíritos.
“1 – Que é Deus?
R: Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas!”
Afirmando a existência de uma causa primeira no Universo, os Espíritos Superiores trazem, dessa forma, um novo conceito de Deus para a humanidade, oposto à ideia de um deus antropomórfico, parcial e vingador, apresentado pelas religiões de um modo geral. Pode-se levar mais longe do que temos feito a definição de Deus? Definir é limitar. Em face deste grande problema, a fraqueza humana aparece. Deus impõe-se ao nosso Espírito, porém escapa a toda analise. O Ser que enche o tempo e o espaço jamais será medido por seres limitados pelo tempo e pelo espaço. Querer definir Deus seria circunscrevê-lo e quase nega-lo.
Para resumir, tanto quanto podemos, tudo o que pensamos referente a Deus, diremos que Ele é a Vida, a Razão, a Consciência em sua plenitude. É a causa eternamente operante de tudo o que existe. É a comunhão Universal, onde cada ser vai sorver a existência, a fim de, em seguida, concorrer, na medida de suas faculdades crescentes e de sua elevação, para a harmonia do conjunto.

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